A luz do Tom

a luz do tomEstreia hoje o novo documentário de Nelson Pereira dos Santos sobre Tom Jobim, complementação, com fino acabamento, do filme do mesmo diretor,  que assistimos em 2012 sobre o maestro. Enquanto no primeiro filme tivemos um recorte de momentos do Rio e da carreira de Tom, embalados por sua música,  no segundo travamos conhecimento de histórias por meio de três mulheres fundamentais em sua vida: Helena, Teresa e Ana.

Algumas dessas histórias estão na biografia escrita por sua irmã Helena, mas recebem novo tratamento quando levadas pela câmera para a tela do cinema. Fica fácil o teletransporte para um Rio que não existe mais e para a companhia do compositor da trilha sonora da vida de muita gente, inclusive da minha.

Em um momento em que o Brasil desperta para apreciar a vida de grandes nomes, com vários documentários interessantes e fundamentais para o registro da nossa história, é essencial assistir A Luz do Tom, uma poesia filmada pelo mestre do cinema nacional, que nos proporciona momentos de relaxamento e prazer, conhecimento e reconhecimento.

A história de Nina

Foto1066O que aconteceu antes, não sei. Não sei como tiveram a coragem, não sei por que atiraram Nina-linda, pequenina-Nina pela janela de um carro em movimento, na pista do meio da Lagoa, na avenida Epitácio Pessoa, no quarteirão entre Garcia e Maria Quitéria, na manhã de 22 de novembro de 2012. Nina voou, um carro bateu nela,  e Paulinho saiu correndo de sua calçada, driblando os carros para salvá-la no canteiro do meio da Lagoa. O filhote de menos de quatro meses estava vivo, assustado, quebrado e encolhido embaixo de um carro. Paulinho se esforçou e conseguiu pegar Nina, levou-a para uma clínica bacana no bairro, a veterinária diagnosticou o que deveria estar errado e indicou o que ele deveria fazer. Paulinho é porteiro em um dos prédios da Lagoa e tudo o que desejava era ver a gatinha em bom estado. Deu comida e aconchego até o dia seguinte, quando Thelma soube da história e me chamou.

Eu sei cuidar de cachorros, não de gatos, entrei em contato com Carol e Ione que me deram dicas preciosas para os primeiros momentos que já corriam 24 horas após o atropelamento. Foi um dia de peregrinação por clínicas médicas e radiológicas para descobrir que Nina tinha duas fraturas, uma na bacia e outra, grave, na cabeça do fêmur. Era caso de cirurgia, não havia outra solução. Descobri, naquele momento, que as três cirurgias mais caras para animais domésticos – cães e gatos – são ortopédica, oftálmica e neurológica. Coisa de muitos mil reais.

Dr. Marcelo, o veterinário de Shee, aconselhou que levássemos Nina à Unidade de medicina veterinária Jorge Vaitsman, perto da Mangueira, mantido pela prefeitura e com preços muito acessíveis para a população. Naquela primeira sexta-feira, após a peregrinação por clínicas e com a indicação cirúrgica, Ione acolheu Nina, que passou a conviver com Batata e Spanka, os donos da casa.

Desde a primeira consulta de Nina com o dr. Luiz, cirurgião ortopédico na UJV, no dia 28 de novembro de 2012, voltamos lá para a cirurgia dia 5 de dezembro, primeira revisão dia 12, retirada de pontos dia 19, segunda revisão dia 2 de janeiro de 2013 e hoje, dia 24, quando Nina finalmente tirou os ferros, que Ione encomendou em São Paulo, e ajudaram a consolidar seu osso. Fizemos campanha na internet e na vizinhança, pedimos ajuda financeira e arrecadamos 930 reais, que pagou o mais pesado.

Além da financeira, recebemos ajuda em forma de indignação, incentivo e interesse. Durante dois meses acompanhamos a evolução do estado de Nina que saiu do susto-quase-morte para uma vida alegre e cheia de peraltices. Mesmo com os ferros, Nina já corria atrás do meu colar comprido quando o arrastava pelo chão, curiosa para descobrir o que era aquilo se mexia à sua frente. Ela tem um excelente comportamento com os gatos de Ione, cheia de chamego com Spanka e respeito territorial com Batata.

Agora que linda-Nina está inteira, colada e sem sequelas, alegre e saltitante, passaremos ao segundo degrau de sua vida que é encontrar alguém que mereça conviver com uma gatinha tão especial como ela. Alguém se habilita?

Posso fazer carinho?

– Posso fazer carinho?

– Melhor não.

– Ela morde?

– Não. Nunca. Às vezes. Pode acontecer.

– Posso fazer carinho?

– Não. Melhor não.

– Mas se ela não morde, não posso?

– Ela é imprevisível. Muda de ideia conforme o dia. Se for sol, morde, se for chuva, não. Ou vice-versa, sei lá.

– Deixa eu fazer um carinho?

– (suspiro)

– Posso?

– Ainda não.

 

 

 

No dicionário

Tudo é intenso, que tem muita força, veemente.

Ah, a força! Sendo forte, é valente, robusto, substancioso, sólido, rijo, consistente. Enérgico. Pode-se dizer também vigoroso, decidido e resoluto; diligentemente ativo.

Ah, O ativo! Aquele que atua, progride, não interrompe. A não ser que o sono chegue. Ou que o zelador tranque a porta.

Sendo veemente, é impetuoso, violento, intenso, caloroso, entusiástico, frenético, fervoroso, animado, arrojado. Após duas garrafas de espumante ou nenhuma.

Se, no entanto, for arrojado pode despertar o audaz e destemido, passar o dia valente, ousado, e valoroso. Chegar à tarde arrebatado, fogoso, impetuoso, como um namorado.

Contudo se houver surpresa, sentirá um sobressalto proveniente de um caso imprevisto e rápido; experimentará admiração, pasmo e espanto. Anoitecerá um prazer com que não contava, um acontecimento repentino. Será o prazer inesperado.

Tudo nos dicionários. Tudo na vida. Um dia após o outro. Surpresa após surpresa. Espera após espera. Encontro e reencontro.

 

Desejos para 2013

Em 2013,
Para os distantes, presença.
Para os europeus, longos braços pelo oceano;
Para os americanos, asas para os trópicos;
Para os que não vejo há muito, encontro;
Para os que vi e perdi, reencontro;
Para os não enxergo, saudade;
Para os que não entendem, compreensão;
Para as novas amizades, continuação;
Para os zangados, sorrisos gentis;
Para os felizes, eternidade;
Para os mestres, gratidão;
Para os que não desistem, firmeza;
Para os sempre presentes, amor;
Para as crianças, inocência;
Para os animais, cuidados;
Para a família, união;
Para cada um e todos, paz e saúde.

Naquela mesa

Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor
Naquela mesa ele juntava gente
E contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho
Eu fiquei seu fã
Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse o quanto dói a vida
Essa dor tão doída, não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala do seu bandolim
Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim
Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim