No dicionário

Tudo é intenso, que tem muita força, veemente.

Ah, a força! Sendo forte, é valente, robusto, substancioso, sólido, rijo, consistente. Enérgico. Pode-se dizer também vigoroso, decidido e resoluto; diligentemente ativo.

Ah, O ativo! Aquele que atua, progride, não interrompe. A não ser que o sono chegue. Ou que o zelador tranque a porta.

Sendo veemente, é impetuoso, violento, intenso, caloroso, entusiástico, frenético, fervoroso, animado, arrojado. Após duas garrafas de espumante ou nenhuma.

Se, no entanto, for arrojado pode despertar o audaz e destemido, passar o dia valente, ousado, e valoroso. Chegar à tarde arrebatado, fogoso, impetuoso, como um namorado.

Contudo se houver surpresa, sentirá um sobressalto proveniente de um caso imprevisto e rápido; experimentará admiração, pasmo e espanto. Anoitecerá um prazer com que não contava, um acontecimento repentino. Será o prazer inesperado.

Tudo nos dicionários. Tudo na vida. Um dia após o outro. Surpresa após surpresa. Espera após espera. Encontro e reencontro.

 

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O XV de Camões

Busque Amor novas artes, novo engenho

Para matar-me, e novas esquivanças;

Que não pode tirar-me as esperanças,

Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!

Vede que perigosas seguranças!

Pois não temo contrastes nem mudanças,

Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas conquanto não pode haver desgosto

Onde esperança falta, lá me esconde

Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que na alma me tem posto

Um não sei quê, que nasce não sei onde;

Vem não sei como; e dói não sei porquê.

Ídolos

Eram os anos 1990 e eu flanava despreocupada pelos jardins e galerias do Estoril, onde havia sido instalada uma exposição com obras de Carybé. Fim de tarde, a mostra ainda não estava oficialmente aberta, portanto as salas mantinham-se vazias. Passeei, admirando tudo, com as mãos no bolso e o coração cheio de saudades quando estaquei em completa veneração. À minha frente, como se estivesse em casa, caminhava o autor das obras, rindo ao lado de Jorge Amado e Zelia Gattai. Imobilizada pela emoção permaneci e até hoje me arrependo de não ter tido a coragem de abordar, tietar e agradecer a existência de meus ídolos.