A imagem encantada

Primeiros momentos à espera do sonho que me levará ao destino de múltiplas faces. Carrego no bolso a imagem encantada que, presenteada com afeto, muda a vibração do ser.

Em conversa com minha irmã, verificamos a diferença de vibração energética no último ano. Antes, o espírito de carregação dizia “tu deves” e agora o espírito de liberdade diz “tu queres”.

Não somente questões inspiradoras do desejo se impõem. Mostram-se, novamente, as garras do “eu quero” que sempre me fizeram andar para frente, viver minha vida de forma encantada, conseguir, muitas vezes, após árdua batalha, meus objetivos, ir e vir, trabalhar com prazer, fazer o que mais gosto, sonhar e concretizar sonhos que muitos sequer tiveram e outros jamais ousaram.

Até o próximo carnaval

Carnaval sempre foi assunto sério em família. Brincamos o carnaval desde pequenos, em suas mais diferentes formas, blocos de rua, bailinhos de salão, escola de samba, festa em casa. Papai inventava blocos que nunca saíam de sua imaginação e de sua gaiatice: BBMB foi o Bloco dos bolas murchas das Braunes, um bloco implicante com filhos e sobrinhas adolescentes que sambavam nos bailinhos até o dia amanhecer, seguiam para a canja da sustância, no restaurante do clube, e passavam o dia dormindo, restabelecendo forças para a noite seguinte. Empurra que pega veio depois, ninguém empurrou, o bloco não pegou e ninguém saiu das brincadeiras em casa. Meu padrinho não viajava para férias em família sem o timbau, muitos anos antes do instrumento correr mundo no ritmo da timbalada. Batucava e fazia contraponto com a mão da aliança, era um som único para nós. Eu cresci com o rock na cabeceira, mas carnaval era outra coisa, outro momento, era a nossa folia. Alguns anos depois, papai foi o chef que preparava os melhores sanduíches para depois dos ensaios do Suvaco do Cristo, aos domingos, no Horto. Mangueirense, torcia pela escola como para o próprio time de futebol, sempre com muita parcialidade, chegou a ligar para mim, de férias no México, só para dizer que Mangueira havia sido a campeã daquele ano.

Vivi outros carnavais divertidos em ensaio da Portela, no ensaio do Salgueiro com Bono na pista e meus amigos tentando o suicídio coletivo por insolação ou correndo atrás da calota perdida em direção a Tiradentes em carnaval já relatado aqui. Sassaricando na Glória e com Monobloco na Cinelândia. Vivi muitos carnavais, sinto saudades deles e anseio pelo próximo em que estarei presente.

Faz dois anos que o carnaval passa pela esquina e não me carrega. Vejo a alegria do povo nas ruas, me divirto com algumas fantasias, torço para a chuva não estragar a festa, escolho um livro e fico quieta no meu canto. Quem sabe o próximo me arrebatará.

A história de Nina

Foto1066O que aconteceu antes, não sei. Não sei como tiveram a coragem, não sei por que atiraram Nina-linda, pequenina-Nina pela janela de um carro em movimento, na pista do meio da Lagoa, na avenida Epitácio Pessoa, no quarteirão entre Garcia e Maria Quitéria, na manhã de 22 de novembro de 2012. Nina voou, um carro bateu nela,  e Paulinho saiu correndo de sua calçada, driblando os carros para salvá-la no canteiro do meio da Lagoa. O filhote de menos de quatro meses estava vivo, assustado, quebrado e encolhido embaixo de um carro. Paulinho se esforçou e conseguiu pegar Nina, levou-a para uma clínica bacana no bairro, a veterinária diagnosticou o que deveria estar errado e indicou o que ele deveria fazer. Paulinho é porteiro em um dos prédios da Lagoa e tudo o que desejava era ver a gatinha em bom estado. Deu comida e aconchego até o dia seguinte, quando Thelma soube da história e me chamou.

Eu sei cuidar de cachorros, não de gatos, entrei em contato com Carol e Ione que me deram dicas preciosas para os primeiros momentos que já corriam 24 horas após o atropelamento. Foi um dia de peregrinação por clínicas médicas e radiológicas para descobrir que Nina tinha duas fraturas, uma na bacia e outra, grave, na cabeça do fêmur. Era caso de cirurgia, não havia outra solução. Descobri, naquele momento, que as três cirurgias mais caras para animais domésticos – cães e gatos – são ortopédica, oftálmica e neurológica. Coisa de muitos mil reais.

Dr. Marcelo, o veterinário de Shee, aconselhou que levássemos Nina à Unidade de medicina veterinária Jorge Vaitsman, perto da Mangueira, mantido pela prefeitura e com preços muito acessíveis para a população. Naquela primeira sexta-feira, após a peregrinação por clínicas e com a indicação cirúrgica, Ione acolheu Nina, que passou a conviver com Batata e Spanka, os donos da casa.

Desde a primeira consulta de Nina com o dr. Luiz, cirurgião ortopédico na UJV, no dia 28 de novembro de 2012, voltamos lá para a cirurgia dia 5 de dezembro, primeira revisão dia 12, retirada de pontos dia 19, segunda revisão dia 2 de janeiro de 2013 e hoje, dia 24, quando Nina finalmente tirou os ferros, que Ione encomendou em São Paulo, e ajudaram a consolidar seu osso. Fizemos campanha na internet e na vizinhança, pedimos ajuda financeira e arrecadamos 930 reais, que pagou o mais pesado.

Além da financeira, recebemos ajuda em forma de indignação, incentivo e interesse. Durante dois meses acompanhamos a evolução do estado de Nina que saiu do susto-quase-morte para uma vida alegre e cheia de peraltices. Mesmo com os ferros, Nina já corria atrás do meu colar comprido quando o arrastava pelo chão, curiosa para descobrir o que era aquilo se mexia à sua frente. Ela tem um excelente comportamento com os gatos de Ione, cheia de chamego com Spanka e respeito territorial com Batata.

Agora que linda-Nina está inteira, colada e sem sequelas, alegre e saltitante, passaremos ao segundo degrau de sua vida que é encontrar alguém que mereça conviver com uma gatinha tão especial como ela. Alguém se habilita?