Pedaços pelo caminho

Naquela tarde quente de dezembro você entrou na casa vazia, viu os fragmentos de uma vida dispostos e arrumados em cima da cômoda e percebeu que a vida mudara. Não haveria retorno possível. Sentou na cama e chorou.

Naquela noite fria de abril, você retornou à casa vazia, viu os espaços não ocupados e percebeu que a vida mudara. Ligou a TV, sentou no chão com o uísque na mão e chorou.

Naquela manhã fresca de março, você entrou em casa e percebeu que a vida mudara, viu o futuro vazio, deitou na cama e chorou.

Naquela manhã quente de abril, você atendeu o telefone, morreu um pouquinho e percebeu que a vida mudara. Manteve-se forte e dias depois, exausta, fraca, jogou-se no sofá e chorou.

Naquela manhã quente de fevereiro, você acreditou-se presa em um filme B de terror, percebeu que a vida mudara e simplesmente chorou.

Escolhas, traçados, destino, escritos, em cada um desses momentos, você deixou um pedaço seu pelo caminho. Não é possível recolher os pedaços perdidos, a vida é que continua em suas tentativas.

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