Osório

Osório chorou: “não sei em que errei”. Jogou-se em cima da mesa do bar e continuou a chorar, todos olhando assustados aquele homem grande se esvaindo em lágrimas. Ele era um perfeito marido, há vinte anos não olhava para o lado, só enxergava Marialva, que agora arrumara as malas e saíra de casa, não queria nem conversa. Osório, inconsolável, desfiava o novelo de seu amor que o impedia de entender como a mulher o abandonara, ele-o-marido-perfeito.

O homem contava que, em vinte anos, nunca esquecera nenhuma data: a do primeiro beijo, a de quando começaram a namorar, a de quando marcaram a data do casamento, e a da cerimônia. Para cada data, um presente especial, uma lembrança, um agrado. Além das datas, Osório fazia questão de demonstrar o seu amor com bilhetinhos escondidos pela casa, levava flores, Marialva era a sua deusa a quem ele fazia tudo para agradar. Ela era a sua alma gêmea, a tampa, a metade, todos os lugares-comuns dos ditos populares.

Os amigos o chamavam para um futebol, para assistir ao jogo no bar, para comemorações e ele sempre respondia que sem a mulher não tinha graça. E não ia. Chegava em casa cedo, via a novela com Marialva, ajudava a lavar a louça do jantar, fazia chamegos na mulher sempre aos sábados, às segundas e quintas. Comparecia com alegria e com prazer. Para Osório, a vida era perfeita.

Na última quinta-feira, entrou em casa animado, carregando um ramo de tulipas para a mulher. Encontrou a casa vazia, os armários vazios, a vida vazia. Marialva partira. Um bilhete em cima do banco dizia: “cansei”.

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