Irmãos

Minha família é grande sem o ser. Minha mãe, filha única, tem (ou teve) muitos tios e tias que não víamos, por inúmeros motivos. Meu pai tem uma irmã e três sobrinhas, minhas primas queridas, com as quais cresci e farreei. Eu tenho uma irmã (como já mencionei antes, de pais e mães diferentes) e um irmão (mesmos pai e mãe) seis anos mais novo que eu.

Com o passar do tempo, a diferença de idade entre nós dois diminuiu, mas não a de temperamento. Com, praticamente, uma geração entre nós dois, somos muito diferentes em quase tudo. Nos últimos anos, brigamos um com o outro, brigas que não estavam na sinopse inicial de nossa vida em comum. Isso leva tempo para ser superado, mas gosto de lembrar uma frase de um filminho bobo, blockbuster de sua época, em que um dos personagens principais diz “I thought we were invincible./But now I know that the things people in love do to each other they remember./If they stay together, it’s not because they forget, it’s because they forgive” (“eu achava que éramos invencíveis./Mas agora sei que coisas que pessoas que se amam fazem umas às outras são lembradas./Se elas permanecem juntas, não é por que elas esquecem, é por que elas perdoam”).

Assim, invoco os sentimentos que nos fizeram crescer juntos em idades tão diferentes e busco a esperança do futuro nos sábios ensinamentos de meu pai sobre família. Ao mesmo tempo, recordo épocas em que meu irmão ainda era mais baixo que eu, suas peraltices pela casa, implicâncias variadas; gol a gol no corredor, com bola de espuma; sua coleção de camisas de times de futebol, hoje passada ao seu filho mais velho; o relógio vendido oito vezes ao meu pai; suas festas à fantasia; as flores à primeira namorada; seu olhar embevecido ao me ver de noiva; seu primeiro carro; a entrada para a faculdade, e sua bela monografia de conclusão de curso; o nascimento de seus dois filhos, sobrinhos mais que queridos.

Certa vez, conversando com ele, disse que, pela lei natural das coisas, nós dois, juntos, é que choraremos, juntos, por nossos pais e juntos, somente nós dois, juntos, sentiremos o sentimento da hora, juntos. E isso, juntos, fará toda a diferença. Juntos. Como dizia Nietzsche, “às vezes é preciso fechar a mão por amor”, mas se nós permanecemos juntos é por que temos o dom de perdoar. Em mão dupla.

PS: Diálogo do filme Indecent Proposal, 1993

Publicidade

Comente aqui

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s