“Supondo o espírito humano uma vasta concha, o meu fim, Senhor Soares, é ver se posso extrair a pérola, que é a razão; por outros termos, demarquemos definitivamente os limites da razão e da loucura. A razão é o perfeito equilíbrio de todas as faculdades; fora daí insânia, insânia e só insânia.” (M. Assis, O Alienista)
Meu trabalho é também sobre Machado. O de Assis, não o instrumento ceifador de árvores e pescoços. Quando leio aqueles textos, os contos, os romances, as crônicas do século XIX, fico nas nuvens. É como uma droga que me sustenta no ar e me faz respirar descompassadamente. Quando ele escreve especialmente para mim (já que se dirige ao prezado leitor, a quem o lê e quem o lê sou eu, então é para mim que escreve), chego a ruborizar. Machado me escreve e não me chamo Carolina.
Então dá uma vontade louca de escrever daquele jeito, mas olho pela janela, com meu cabelo preso, um grampo de dois reais, por causa do calor… Não… Calor é pouco, o portal do inferno, o próprio inferno que abraça o meu Rio de Janeiro nesses quatro meses do ano, olho meu vestido colorido, ouço a TV do vizinho sintonizada em um jogo qualquer e ouço também seus comentários e gritos e soluços dignos de Maracanã mesmo em obras, sinto a dor de cabeça que não me larga como se fosse um carrapato escondido, reconheço que, mesmo existindo um pouquinho daquele talento, não seria capaz de reproduzir parágrafos como aqueles no ambiente de agora. Ah, sim… Esqueci dos fogos. Soltam fogos também. O visual fogueteiro pode até ser muito bonito, se a gente pudesse ver no mute.
Pois bem, o que eu estava querendo encadear era uma conversa com o leitor deste post, algo que Machado nem imaginou ser possível existir um dia. Teria lhe facilitado muito a vida… Mas seria qualquer coisa como: você que me lê não imagina como foram minhas duas últimas semanas. Não, não se espante, porque todos estão com a saúde mais ou menos em dia, uma dieta ali, uma dorzinha aqui, mas nada que tire o sono. Por enquanto. Não de novo. Não ainda. Mas foram semanas complicadas, coisas boas e ruins aconteceram, acho que os seus dias também são assim, não, leitora? (vou modificando o gênero para agradar a todo mundo). Coisas boas em primeiro, para começar bem: a saúde, como já mencionei, o encontro com amigos, o musical maravilhoso, Hair, já assistiu? A simples existência dos meus três sobrinhos, a alegria de Shee Marie quando encontra um de seus amores. Como eu ia dizendo, caro leitor, tive notícia de gente desaparecida há muito, que eu não consegui categorizar ainda se foi bom ou ruim, mas tive reencontro maravilhoso com amigos que não via há muito. Isso foi realmente bom. O trabalho da monografia está atrasado, mas segue um rumo bacana. E isso também não sei caracterizar se é bom ou ruim. As leituras estão na categoria “bom”: Tanto de estudos para preparação do texto, quanto em geral, como por exemplo, a vida maluca do Keith Richards, que muito me fez rir e a última crônica do Arnaldo Bloch falando sobre Cisne Negro. Prezada leitora, parece até que conversamos antes dele escrever! Concordo com tudo o que ele disse. E recortei e guardei em meus alfarrábios. Ah, sim… Falando em filmes, já assisti muitos, mas queria ver também Malu de bicicleta, bravura indômita e inverno da alma… Os outros que queria assistir, já consegui. Facilidades de morar ao lado de 18 cinemas… Não! Não exagero… Abra o jornal e conte quantos cinemas existem ao meu redor… Bem, para não dizer que detesto totalmente o verão no Rio, tem uma coisa que fica na categoria “bom”: chope à noite, na calçada, em qualquer um dos inúmeros bares e restaurantes, com a brisa que vem do mar e atravessa concreto e vidro e chega até você, sentadinho àquela mesa, pós-qualquer coisa: cinema, teatro, concerto, até mesmo praia. Isso é bom demais. O que mais? Acho que das coisas boas já falei, das uncategorized também já falei, agora, prepare-se para a categoria “ruim”… Foi… Bem… Humm… Sabe que não aconteceu nada de ruim? Como diz minha irmã-maga, até mesmo o que parece ruim no primeiro momento, transforma-se em algo muito bom em seguida. Então, leitora, só me resta agradecer que a vida tenha sido tão generosa comigo nas últimas semanas… Agora vou tomar outro comprimidinho só para a dor de cabeça ir embora de vez. E começar mais uma semana de bem com tudo. Ah! Já me esquecia… O carnaval está chegando e o Rio fica mais colorido, divertido, maravilhoso. Você também gosta de carnaval, leitor?