Acordei com a sensação de corpo querendo gripe – às vezes o mundo gira tanto que é o corpo que faz a gente parar, de uma forma, ou de outra – e eu querendo dormir. A cama desfeita e os travesseiros macios são um convite ao ócio, mas o dia já começou e o ano finda. Shee olha para mim, levanta as sobrancelhas, bem brancas aos quase dez anos, que dizem: “vamos?”. Vamos. Já na rua procura os amigos, Thor, Nick, Lili, Pingo e não há nenhum à vista. Meu corpo dói. Quero voltar a dormir. Antes de conseguir tomar café, os plings e plongs sonoros de mensagens em suas variantes tecnológicas começam a perturbar meus ouvidos. Logo percebo que estou atrasada para o dia e terei de fazer um esforço para compensar. Poesia me deixa feliz; tento secar as lágrimas da amiga; bronqueio com o amigo que pretende furar compromisso; ligo para a outra que tudo faz para levar multa do guarda ao dirigir com o celular na orelha; sento para me levantar. Ligo para mamãe: “Tô com saudades, demora?” Logo chega. O telefone não para (esse acento faz falta). Continuo o trabalho, não me entendo com a câmera do note, há uma incompatibilidade entre minha paciência e o seu não funcionamento. Ligo o skype, mas não tenho sucesso com a dorminhoca, a câmera decidiu não me mostrar para ninguém. Saio novamente com Shee e dessa vez encontramos Pingo. As festas são intensas, mas breves. O primo fala da festa, o irmão fala do festejo, a amiga fala do almoço, retorno ao trabalho, recebo doce ligação e, enquanto janto, assisto o programa de que gosto e rio, com minha irmã, das situações representadas. Volto ao trabalho, é tarde e já sei que amanhã continuarei com sono.