A primeira vez em que li, ele se chamava Leon e sua Ana tinha só um ene. Naquele tempo, os russos eram traduzidos do francês para o português e se na tradução de uma obra de uma língua para outra já se perdem características originais como fluidez, ritmo, métrica, só para citar algumas, imagina traduzir a tradução.
Eu tive um professor que dizia que “mudar de ideia é evoluir” e aquilo ficou de tal forma marcado em mim, como uma ordem suprema, que insisti em seguir o seu mandamento para ver se eu conseguia me transformar um pouquinho. Para isso, travo constantes batalhas comigo mesma, sempre me perguntando: acertei? errei? gosto? poderei gostar? De três em três anos ainda provo dobradinha só para confirmar que não gosto. Acho que dessa nunca poderei gostar. Entretanto, tergiverso. Volto.
E volto à leitura de Anna Kariênina, agora com dois enes, não mais Karenina, não mais de Leon e sim de Liev Tolstói, em tradução do russo por Rubens Figueiredo, editora Cosac Naify, só para constatar que a forma mudou, mais bela, mais próxima do que poderíamos alcançar em uma tradução das tradições russas do século XIX, mas a essência que me arrebatou há tantos anos lá permanece.
Aviso para quem gosta de ler deitado: o livro pesa mais de um quilo, uma almofada no abdome se faz necessária.