O cara era um pessimista e azarado. Nada dava certo para ele, que já estava conformado. E mais que isso: satisfeito. Ele era um pessimista resignado com a vida que levava. Quando as coisas saíam erradas no dia a dia, era nada mais do que a confirmação de seu destino. Ele era tão miseravelmente derrotado que ninguém na família ousaria viajar de avião com o sujeito. Seu carro estava sempre na oficina, consertando alguma batida. Pelo menos uma vez por semana o ônibus que o levava ao trabalho quebrava ou furava o pneu. Nas ruas com entulho, a barata corria em direção ao seu pé. Na lanchonete, o suco pedido se esparramava pelo balcão. A facilidade com que ele derrubava qualquer coisa no chão era assustadora. Atravessava a rua e trombava em alguém que vinha caminhando na direção oposta. Com as roupas, então, parecia um complô: o botão pulava da camisa só para expor sua barriga em público. A calça rasgava na roleta do transporte, a alça da mochila arrebentava quando ela estava cheia e pesada, a sola do sapato abria a boca em dia de chuva.
Na última segunda-feira, ele saiu de casa e fazia sol. Pegou o ônibus e chegou na hora certa no trabalho. Almoçou sem derrubar nada na mesa ou em alguém. Conversou com os colegas sem trocar as palavras, voltou para casa e a TV funcionava no canal escolhido. Quando foi dormir, reparou que sua roupa estava limpa e inteira. Nada de ruim acontecera. Nada do que estava acostumado. Deitou a cabeça no travesseiro e chorou, pois havia sido o pior dia de sua vida.