Caía uma chuva fina naquele dia cinzento e frio. Ele estacionara o carro em sua vaga, mas continuou sentado em seu interior, sem muita vontade de encarar o vento do lado de fora.
Suspirou fundo, esperou a música acabar, vestiu as luvas e saiu. Começou a subir as escadas que o levariam a seu apartamento, segurando o corrimão com a mão direita, enquanto carregava algumas sacolas de supermercado com a outra.
Abriu a porta da casa e foi até a cozinha deixar as compras. Era bom entrar no ambiente aquecido e deixar o gelo para trás. Tirou as luvas, jogou-as no aparador do corredor e começou a descascar as camadas de roupas. Entrou na sala, onde Ziggy levantou a cabeça, abanou o rabo sem vontade e sem sair da cama. Em outro tempo, ele esperaria na porta de casa, animado.
Pegou uma garrafa de vinho e bebeu a primeira taça de um gole só. Serviu outra. Ligou a música, pegou Ziggy no colo e sentou-se no sofá, onde os jornais do dia estavam espalhados. A casa estava sempre bagunçada desde que ela partira. Ela, que fora seu sol, seu calor, seu riso mais franco, sua cúmplice, partira e, desde então, sua vida era inverno.