O ano era 1989. As ordens eram não temer mudanças. Não sentir, de novo, tristes sentimentos familiares. “Acho que Deus está pregando uma peça muito feia em mim”. Justo quando tentava me reaproximar d’Ele. Olhava para o alto, procurava por Ele, sentia a Sua presença mas não O compreendia. Sensações tumultuadas, divididas, tomaram conta. Senti medo.Smile. No pré-histórico walkman, Eric, com sua voz rouca me dizia para sorrir, para lembrar, confirmando nossa existência. Era a música de Chaplin que mostrava a lição verdadeira de que a lembrança alegre, viesse como viesse, levasse aonde levasse, ficaria. Olhava para ele deitado no leito do hospital, onde passei dias, e lembrava-me de meu avô, com os mesmos olhos suplicantes: “Façam algo por mim. Não me deixem aqui”. Ansiei por uma prece, um pedido, queria acordar do pesadelo, do sonho ruim repetido. Não queria sentir novamente a proximidade do fim. Senti-me numa bifurcação, onde tive de optar pelo eterno ou pelo momento. Um frio subiu e desceu pela minha espinha. Era um lado adormecido que tentava despertar e naquele momento não havia lugar para ele em minha vida. Muitos rótulos para o mesmo turbilhão de emoções. Sentia que a sua partida mudaria definitivamente minha vida. E mudou.