Feliz aniversário

Esta noite o sono foi intermitente, até que chegou o momento da desistência. O corpo reclamará em algumas horas, mas não houve o que fazer com a cabeça desperta. E então? Como será o dia de hoje? 11 de abril, lembra? Muitos anos atrás, consegui convencê-lo a comprar uma girafa de plástico vendida pelos ambulantes na praia, com a desculpa de ser um presente para meu irmão recém-nascido, com a cara amarrotada no colo de mamãe na maternidade. Ele até que era bonitinho, meio chorão, com perninhas inquietas, um ser divertido, quase um de meus bonecos, a não ser na hora de trocar aquelas fraldas – ainda de pano. Você o iniciou no gosto pelos esportes e não pôde fazer nada quando o menino de oito, nove anos assistiu a ascensão do Flamengo como melhor time e resolveu que não seria América como o pai. Todas as noites, você chegava do trabalho, girava a chave na porta e chamava: “Cadê meus filhos? Cadê minha mulher?” e apostávamos corrida para ver quem chegava primeiro para o abraçar. Enquanto o jantar era preparado, você e meu irmão jogavam gol a gol com o dado de espuma no corredor e ele vencia a maioria das partidas. Era até engraçado ver seus frangos no gol minúsculo. Jantávamos os quatro à mesa e conversávamos sobre o dia vivido. Pequenas lembranças diárias de nossa vida em família. Os dias 11 de abril eram comemorados com bolos e festas simples, em casa, com amigos e família. Os carrinhos matchbox, bolas e camisetas dos times de futebol estavam entre os presentes preferidos e mais frequentes. Isso não o impedia de assaltar minha caixa de sapatinhos de bonecas e atirá-los pela janela em um jardim espinhoso, por pura arte de meninote, implicando com a irmã. E quando ele fez quinze anos, lembra? Fizemos uma festa surpresa, ele ganhou um relógio de presente e você inventou que iríamos jantar fora, em um restaurante no Leblon, apesar de morarmos na Barra. Família no carro, quando chegamos em frente ao restaurante, você perguntou onde estava a sua carteira. Mamãe disse que estava em casa, teríamos que voltar. Tudo combinado com a família e os amigos, entramos na casa apagada e ele viu um vulto, achou que era ladrão, tirou o relógio novo do pulso e colocou no bolso, com medo da perda. Grande surpresa quando viu todos que o esperavam. Foram muitos dias 11 de abril em anos passados que estivemos juntos, jantamos juntos, rimos juntos, fizemos fila para os parabéns matinais, com a cara amassada e o cabelo desfeito. Acho que você era quem mais gostava dessa fila de parabéns. Este ano, Búbi fez uma surpresa para ele, com nosso apoio logístico e desculpas. As crianças insistindo na saída e quando eles entraram na reunião, foi o mesmo menino surpreso de anos atrás que sorriu sem jeito. Hoje, mais um 11 de abril, jantaremos juntos em casa, primeira vez sem você em mais de quarenta anos, tentaremos não chorar, faremos um ambiente agradável, faremos tudo para ser um feliz aniversário para seu menino.

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